O apagão de 28 de abril de 2025 foi mais do que uma falha elétrica generalizada. Revelou, de forma abrupta, os pontos cegos da infraestrutura crítica e da gestão técnica de edifícios em Portugal. Para além da interrupção do fornecimento de energia, o que muitos profissionais relataram foi a falha das soluções que supostamente garantiriam a continuidade: sistemas UPS que não funcionaram, geradores que não arrancaram ou falharam pouco depois, e equipas de manutenção que tiveram de intervir em modo de urgência.

A maioria dos edifícios modernos possui algum tipo de sistema de backup elétrico. No entanto, testemunhos recolhidos apontam para um problema recorrente: a confiabilidade teórica destes sistemas nem sempre se traduz em desempenho real em situações-limite. Nalguns casos, os UPS mantiveram os sistemas durante 15 a 30 minutos, mas não houve transição bem-sucedida para os geradores. Em outros, os grupos geradores arrancaram mas falharam ao fim de minutos devido a problemas mecânicos ou falta de manutenção adequada.

Estes relatos sugerem uma fragilidade preocupante: testes mensais ou trimestrais não são suficientes se não simularem situações reais de carga e duração. Um dos contributos refere explicitamente que os sistemas “não estão preparados para um corte total de eletricidade da rede pública que dure mais de 1 hora”, revelando uma lacuna grave em termos de planeamento.

A falha não foi apenas dos sistemas, mas da confiança depositada em procedimentos pouco testados. Um dos profissionais destacou que “houve um retorno às origens da engenharia, ao uso de ferramentas básicas e à leitura direta de quadros e sinais de campo”, sugerindo que a sofisticação digital não substitui a robustez operacional.

Também se constatou que, em vários edifícios, as equipas de manutenção desempenharam um papel vital. A sua presença permitiu resolver problemas, isolar falhas e manter algum nível de funcionalidade. No entanto, a ausência de protocolos claros para operação manual em modo de crise foi apontada como um entrave em várias situações.

O apagão de abril deixou uma mensagem clara: não basta ter sistemas. É preciso garantir que funcionam. E isso implica uma revisão séria das estratégias de manutenção, testes mais exigentes e maior envolvimento das equipas operacionais. No limite, trata-se de proteger a continuidade dos serviços essenciais — não apenas com tecnologia, mas com preparação, redundância real e resposta humana eficaz.

 

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