O apagão de 28 de abril de 2025 revelou, de forma crua, que tão ou mais importante do que a infraestrutura técnica são as pessoas e os processos que lhes permitem reagir com rapidez e discernimento. A falta de energia foi, para muitos, também uma falha de comunicação — interna e externa — e um teste à maturidade operacional de cada organização.

Tomada de Decisão em Cenário de Incerteza

Diversos testemunhos referiram a dificuldade em perceber o que estava a acontecer nas primeiras dezenas de minutos. Sem energia e com limitações de rede móvel ou dados, muitos profissionais tiveram de agir com base em intuição e experiência, recorrendo a protocolos prévios — quando existiam. A ausência de um “painel de controlo” em tempo real foi apontada como uma fragilidade crítica.

“Tivemos de tomar decisões no escuro — literalmente e figurativamente. Só sabíamos o que estava a acontecer no nosso edifício. Não havia contexto.”

A Falta de Comunicação Externa

Vários gestores relataram a inexistência de comunicações formais por parte das autoridades ou dos operadores de rede nos primeiros momentos do incidente. Esta lacuna gerou especulação e aumentou a incerteza, especialmente em edifícios que acolhem múltiplas empresas ou público.

“Foi mais fácil obter informações pelos grupos de WhatsApp do que por canais oficiais. Isso não é sustentável.”

A Importância da Comunicação Interna

Nos edifícios onde existiam planos de continuidade bem comunicados, os efeitos da incerteza foram mitigados. A capacidade de ativar rapidamente equipas de crise, informar ocupantes e coordenar intervenções com fornecedores fez toda a diferença.

“Os nossos colegas sabiam que papel tinham de desempenhar. Não houve pânico, houve ação.”

Comportamento das Equipas Técnicas

O fator humano revelou-se essencial. Profissionais experientes tomaram iniciativas corretas mesmo sem acesso a todos os dados. No entanto, também se identificaram situações de hesitação ou ausência de pessoal com conhecimentos suficientes para atuar, sobretudo em edifícios com operação mais reduzida ou externalizada.

“A subcontratação sem transferência de conhecimento operacional compromete a resposta em situações-limite.”

Coordenação Multientidade

Em edifícios multiempresa ou com equipas de segurança e manutenção contratadas a diferentes entidades, a coordenação nem sempre foi fluida. Algumas organizações destacaram a importância de treinos prévios, listas de contactos atualizadas e canais de comunicação de emergência.

“Estávamos todos no mesmo barco, mas ninguém sabia quem estava a remar nem para onde.”

 

Assim, e em conclusão, o apagão evidenciou que, para além da robustez técnica, é fundamental preparar as pessoas e os processos para cenários de falha extrema. A formação regular, a clareza na comunicação e o treino em tempo real podem ser a diferença entre o caos e o controlo. As organizações que já tinham investido nestas áreas mostraram-se mais resilientes — e saem deste episódio ainda mais conscientes do seu valor.

 

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